Programa de índio

O Cavaleiro
Solitário

(The Lone Ranger, EUA, 2013)
Dir:
Gore Verbinski
Um
garoto entra num museu e, diante de um boneco que representa um índio apache,
vê esse mesmo boneco ganhando vida. Ninguém mais no museu parece se dar conta
daquela estranheza, só o garoto, que vai ouvir toda a história de como o índio
desgarrado Tonto (Johnny Depp) uniu-se ao promotor John Reid (Armie Hammer)
para caçar um fora da lei e seu bando pela região árida do velho oeste
americano.
Essa
desfaçatez narrativa, quase uma abordagem fantasiosa para um filme que trabalha
o humor negro e a crendice como algo fabular, é uma abordagem ideal para a construção
de uma espécie de mito, o cavaleiro solitário, justiceiro supostamente
renascidos do reino dos mortos, posição que será assumida por John. Sendo assim, O Cavaleiro Solitário começa muito bem
enquanto proposta, já injetando doses muito boas de adrenalina, na base da
inverossimilhança que tão bem faz aos filmes de super-heróis.
Mas
a megalomania da produção toma conta do filme quando as tramas começam a se
alongar, aumentando a quantidade e proporção das situações, sempre em busca de
algo mais grandiloquente, e os personagens começam a ter mais conflitos. O interesse
amoroso de John pela cunhada (Ruth Wilson) soa mais como distração ou a
necessidade de um interesse amoroso na história; a introdução de um segundo
vilão na parte final (vivido caricaturalmente por Tom Wilkinson) parece dispensável, assim como a personagem da cafetina interpretada por Helena Bonham Carter, uma pistola no salto de sua bota soando como um super detalhe descolado, mas sem serventia na trama.
A
partir daí o longa parece não acabar nunca. É um filme balofo, que parece se
retroalimentar, enquanto a fruição vai se tornando cansativa, apesar da
adrenalina do todo. O Cavaleiro Solitário
é o típico “frankenfilm”, espécie de produto do mercado hollywoodiano altamente
controlado por estúdios, com muita gente dando pitaco (roteiro feito a seis
mãos), composto por uma série de lugares comuns daquilo que se imagina que faz
sucesso e atrai o grande público nessa alta temporada. Um objeto
formatado para ser bom, mas que acaba soando disforme, ineficiente. Consequência
disso é o mau resultado nas bilheterias.
O
filme esforça-se para criar uma ambientação hype
no quesito western, com personagens
superestilizados e paisagens imponentes. Coisas grandiosas que explodem e/ou
que andam a toda velocidade também são muito bem-vindas nessa trama que não
pode parar um só minuto. Tudo que envolve o personagem de Depp, incluso aí sua
velha interpretação do cara esquisito-altista, parece ter um sentido cômico, para
além do pretenso misticismo da cultura indígena que ronda sua persona. Mais um
ingrediente para engrossar o caldo da busca por um público que quer ser
entretido. 

Até
agora não sei por que o cavaleiro vivido por John é solitário, como aponta o título,
se o tempo todo ele tem a companhia do índio Tonto. Esse é o tipo de incongruência
que faz o filme mais um produto descartável de mercado, trazendo gravada a marca
Disney, essa máquina de entretenimento que nem sempre faz coisas certinhas, e
nem sempre acerta.

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