Mais curtinhas

Salve Geral (Idem, Brasil, 2009)
Dir: Sérgio Rezende

Uma grata surpresa nosso representante para o próximo Oscar. De longe, Salve Geral pode muito bem ser confundido com um filme sobre violência, mas para mostrar o fatídico dia em que o Primeiro Comando da Capital (PCC) parou São Paulo, em maio de 2006, se interessa muito mais em expor os complexos mecanismos que estão por trás das ações da facção criminosa. Para tanto, se apega à história de uma mãe (Andréa Beltrão) que se vê dentro de tais esquemas de corrupção e banditismo, mas faz isso com o intuito de tirar seu jovem filho da cadeia.

São muitos os momentos em que o roteiro se mostra panfletário demais com frases prontas e de impacto para falar sobre corrupção na polícia, lentidão do sistema judiciário, pobreza que gera violência, etc, etc, tipo de coisas que já estamos cansados de saber. Mas é esse mesmo roteiro que traz boas surpresas e mantém o ritmo do filme sempre constante, numa tarefa que não é nada fácil pelas diversas conexões e personagens envolvidos na trama (e na tramoia). Mas é a personagem de Beltrão a mais complexa de todo o filme, numa ótima atuação e fazendo de sua mãe coragem a guerreira cega que se expõe, se entrega, se sujeita, corre riscos, participa do jogo sujo. Tudo por um filho.

O Caçador (Chugyeogja, Coreia do Sul, 2008)
Dir: Na Hong-jin

Se é bastante fácil identificar O Caçador como um filme policial de serial killer, a sensação de estarmos vendo algo no mínimo diferente para o gênero surge logo depois do primeiro e surpreendente embate entre o anti-herói e o vilão, numa estranha atmosfera de aventura com tiques de comédia, tipo de coisa que os sulcoreanos adoram inventar para fazer sair da mesmice. Mesmo assim, o resultado fica aquém do esperado porque o filme tem tantas reviravoltas que acabam enfraquecendo o todo com seus altos e baixos, principalmente na parte final. Eom Joong-ho (Kim Yun-seok) é um ex-detetive que largou a profissão para gerenciar um negócio de garotas de programa; quando suas moças começam a desaparecer, ele quer saber quem é o responsável.

De longe, poderíamos dizer que Joong-ho só se importa com o lucro de seu ganha-pão (é bastante evidente seu estado de decadência). Mas à medida que a busca pela última garota desaparecida vai se intensificando, fica cada vez mais claro para ele que as moças estão sendo assassinadas. Aí o tom do filme ganha humanidade com o personagem revelando fraquezas. Ainda que conte com situações engraçadas e de absurdo total, o filme não deixa de ter seus momentos mais melancólicos, e, por mais dolorido que seja, não se entrega a resoluções fáceis e assume a dureza da vida de seus personagens.

Te Amarei para Sempre (The Time Traveler’s Wife, EUA, 2009)
Dir: Robert Schwentke

Outra bela surpresa. Uma história de amor que possui na trama um personagem que viaja no tempo não parece cheirar bem, mas Te Amarei para Sempre é tão fiel a sua premissa e os personagens são tão fiéis a si mesmos, que este se torna um filme irresistível. Henry (Eric Bana) descobre desde cedo uma anomalia que o faz desaparecer a qualquer instante e ir parar em outra fração de tempo, seja no futuro ou no passado, coisa que logo se anula e ele volta ao tempo “normal”. O pior: ele não possui controle sobre essa habilidade. Por isso a vida dele é um risco constante ao mesmo tempo em que suas viagens futuristas lhe revelam seu destino, como o fato dele se apaixonar e se casar com Claire (Rachel McAdams).

É muito interessante como toda a narrativa do filme é bem costurada e nada pareça fora de lugar. Logo, logo nos acostumamos com os desaparecimentos repentinos de Henry e vamos nos adequando ao modo de vida do personagem, da mesma forma como a doce Claire. Mesmo ela já sabia que seriam casados porque ele lhe apareceu ainda menina numa de suas viagens, o que faz com o filme esteja sempre nos surpreendendo com esses tipos de descobertas. A história pode ganhar tons melosos no final, mas nada que soe por demais exagerados. Na verdade, o filme transparece muita simpatia e bastante verdade no amor entre os dois.

Audition (Ôdishon, Japão/Coreia do Sul, 1999)
Dir: Takashi Miike

Esse filme me pare um equívoco. Começa muito bem como o drama de Shigeharu (Ryo Ishibashi), viúvo de meia idade em busca de uma nova esposa. Para isso, vai contar com a ajuda de um amigo dentro do ramo de cinema que irá forjar a audição de atrizes para um filme, com a verdadeira intenção de encontrar a mulher ideal para o amigo. É aí que surge a doce e misteriosa Asami(Eihi Shiina); os dois passam a se encontrar e somente ele não percebe que a moça é encrenca garantida. Mesmo quando o suspense começar a rondar a história e ensaiar o pesadelo que está por vir, a tensão criada é bastante eficiente.

Mas o problema é quando o filme assume de vez o tom de horror e investe numa trama de psicologismos e respostas baratas para justificar o comportamento doentio da garota, com direito a flashbacks e viagens oníricas do personagem. O final, tão comentado e polêmico, parece satisfazer somente a necessidade de Miike em chocar e parecer o mais cruel possível, isento de pena para com seu protagonista, num desfecho raso e um tanto nulo. Pode ser pouco previsível, mas a surpresa não me garantiu sucesso.

5 thoughts on “Mais curtinhas

  1. Me surpreendi com sua avaliação de SALVE GERAL, me deu até vontade de ver o filme agora, mesmo que com os dois pés atrás…
    O CAÇADOR eu acho ótimo. Tenso, envolvente, com uma dupla de protagonistas talentosos, e algumas cenas maravilhosas.

  2. Eu vi 'Paris, Te Amo', mas vi quase sem atencao. Tenho de rever. Tenho o DVD, mas tá no Brasil e aqui é proibido baixar qualquer coisa que nao seja autorizado, entao só quando estiver de volta.
    De todo modo, querer voltar a Paris eu quero, mas me resta conhecer tanta coisa ainda

  3. Pois é Wallace, também tava muito com o pé atrás, mas descobri no cinema um ótimo filme, muito diferente do que o trailer promete. E O Caçador eu bem que podia dar meia estrela a mais, mas o filme enfraqueceu depois de visto.

    Sabe que eu também já li vários comentários positivos sobre o filme, Gustavo. Achei até estranho, mas veja para matar a curiosidade.

    Iulo, meu filho, aí é proibido baixar filmes? Nossa, que atraso!! Se eu estivesse num lugar que não pudesse baixar filmes e o preço do cinema fosse 20 Euros, eu sofria uma parada cardíaca fulminante! Que horror!!! E reveja mesmo o Paris, Te Amo e acredito que vai se identificar bem mais com o filme. E eu tenho o DVD de 2 Dias em Paris, foi inclusive Flavinha que me deu, mas não vi ainda, acredita? Tá na lista!!

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