Festival Varilux de Cinema Francês – Parte VI

Uma Garrafa no
Mar de Gaza

(Une Bouteille à la Mer, França/Israel/Canadá,
2011)
Dir:
Thierry Binisti

A
historia é bonitinha, os personagens tem lá seu interesse, o tema é nobre e
relevante, mas não dá pra negar que Uma
Garrafa no Mar de Gaza
é um filme bobinho, reprocessa temas já amplamente
vistos e discutidos, não traz muito de renovador para o assunto. Não há nada necessariamente
de errado, mas não passa de um filme correto na sua proposta de unir dois jovens
de culturas distintas inseridos em contexto apreensivo de conflito bélico.
Tal
(Agathe Bonitzer) é uma jovem francesa que vive em Jerusalém com a família e
tem um irmão soldado que serve na faixa de Gaza. Ela busca se comunicar com
palestinos para entender de onde vem o ódio entre os dois povos. Para isso
lança ao mar uma garrafa com uma mensagem amigável a fim de estabelecer contato
com quem a encontrar. Naïm (Mahmud
Shalaby) e um grupo de amigos acham uma das mensagens e é o único
que se interessa em manter um diálogo com a garota.
À
medida em que a relação entre os dois vai se tornando mais próxima, o filme vai
desenvolvendo a história desses personagens. Ela, uma adolescente por vezes
mimada, mas consciente dos problemas políticos da região; ele, um jovem
idealista que sonha em estudar francês e se mudar para Paris. Tudo no filme segue
o registro do humanitário, em oposição às atrocidades de uma guerra sem fim. Nada
sai desse âmbito do inconformismo, que todos nós compartilhamos, mas sem
aprofundar em nada a questão.
Se
a garrafa jogada ao mar sugere uma ideia de tradição antiga, a
comunicação via internet que os dois vão manter posteriormente aponta para a
modernidade de um novo contexto social de inter-relações. O novo traz
possibilidades outras, mas as rivalidades antigas ainda têm um peso maior.
My Way – O Mito
Além da Música

(Cloclo, França/Bélgica, 2012)
Dir:
Florent-Emilio Siri

Sabe aquela música eternizada na voz de Frank Sinatra, My Way, considerada por muitos a canção mais famosa do mundo?
Então, ela é uma versão de uma música original francesa, Comme D’Habitude. É dessa curiosidade
que My Way – O Mito Além da Música se
nutre para desenhar a trajetória de sucesso do cantor pop Claude François, também conhecido como Cloclo, uma espécie de
Elvis Presley francês, astro da música dançante dos anos 60 e 70 que alvoraçava
as mocinhas da época, vendia milhares de discos e compôs a canção em parceria com Jacques Revaux.
Uma
pena que o filme não faça jus ao sucesso de Cloclo, caindo numa das armadilhas
mais fáceis das cinebiografias: a necessidade de contar toda a história de seu biografado,
como uma obrigação por não deixar de fora vários fatos que marcaram sua
carreira e trajetória pessoal. My Way
parece que não vai acabar nunca (o filme tem 2h30 de duração). 

O
maior problema em abordar tantos momentos é que o enredo não consegue desenvolver
bem as situações que o personagem vive. Por exemplo, passamos o tempo todo
vendo o trabalho do agente de Cloclo (interpretado por um irreconhecível Benoît
Magimel), para em determinado momento alguém dizer que eles não estão mais trabalhando
juntos. Assim, sem mais nem menos, ele sumiu.  
Jérémie
Renier (ator belga mais conhecido pelos filmes dos irmãos Dardenne, como A Criança e o mais recente O Garoto de Bicicleta) faz um trabalho incrível
de caracterização, inclusive de esforço corporal – Cloclo dançava bastante no
palco. O que mais lhe atrapalha é um roteiro que numa cena mostra-o gritando
com seus funcionários e na seguinte revela um pai atencioso ou um esnobe
mulherengo. Às vezes é difícil compreender que personagem é esse, suas motivações,
conflitos e traços de personalidade.
De
fato, é um homem cheio de nuances e complexidade, mas falta ao filme certo tato
para transparecer isso de forma satisfatória e não jogando na tela cenas que
parecem aleatórias para revelar várias facetas do personagem. Algumas sequências
terminam tão bruscamente que um pouco mais de rigor na decupagem não faria nada
mal ao filme. Mas é aí que a pressa em contar muita coisa atrapalha tanto o
longa.

5 thoughts on “Festival Varilux de Cinema Francês – Parte VI

  1. Concordo muito com as duas resenhas. "Uma Garrafa no Mar de Gaza" aquece o coração e considero bem sucedido mais pelas antíteses sutis que o diretor evoca – antigo X modernidade; distância X aproximidade; guerra X amizade – do que essencialmente pela narrativa. Os personagens, por outro lado, são muito bons.

    Já "My Way" é mesmo um problema. Mas o ritmo pulsante e a atuação enérgica de Rénier me "trouxeram" para o filme, ainda que tenha diversos problemas estruturais, fruto de um roteiro pretensioso.

    Abs!

  2. Elton, essas foram umas das bolas fora do Varilux este ano. Ainda prefiro Uma Garrafa porque embora não seja problemático, não oferece muita coisa de novo.

    Olha Amanda, eu aproveitei mesmo este festival. Foram 14 filmes vistos dos 17 que passaram. Agora é correr pra tirar o atraso dos estudos que ficaram pendentes.

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