Curtas

Em Busca da Vida (Sanxia Haoren, China, 2006)
Dir: Jia Zhang-Ke

Filme ganhador do prêmio máximo do Festival de Veneza de 2006, Em Busca da Vida é um retrato melancólico de dois personagens que voltam à cidade onde moravam e que agora está sendo evacuada para dar lugar à represa de Três Gargantas. Lá deixaram pessoas importantes e o reencontro é também uma visita ao passado. O mais interessante é que como o local está sendo praticamente destruído, se torna um interessante contraponto àqueles personagens que procuram justamente reconstruir suas vidas. Da destruição, surge a renovação, mesmo que dolorosamente. A atmosfera é de tristeza e o diretor não tem pressa nenhum em desenvolver a história, que fica em alguns momentos cansativa. A narrativa é lenta e arrastada, mas essencial para o clima de nostalgia que permeia a película. Esta ainda faz uma dura crítica à China enquanto nação que cresce às custas do sacrifício de seu povo, principalmente os mais rejeitados pelo sistema. Além disso, há momentos de pura fantasia, servindo para quebrar o gelo. Me digam quantas vezes vocês já viram um edifício levantar vôo?

O Grande Chefe (Direktoren for Det Hele, Dinamarca, 2006)
Dir: Lars Von Trier

Depois de se consagrar com obras de grande valor autoral e estético, o diretor dinamarquês volta com seus experimentos de filmagem fazendo agora uma comédia sem pretensões, como a sua própria voz em off anuncia ao início do filme. O problema é que a comédia não tem graça, o texto pretende ser inteligente ao mostrar verdades ocultas, mas acaba soando artificial e bobo. E se a idéia de utilizar enquadramentos estranhos e incomuns (escolhidos por um programa de computador) poderia ser o toque de modernidade, acaba se cansando pela sua ineficiência. Da última vez que li algo sobre o Vom Trier, ele estava em depressão. Tomara que se cure logo, pois espero com muita empolgação a finalização de sua trilogia sobre a terra do Tio Sam, essa sim merecedora de seu talento.

O Espelho (Ayneh, Irã, 1997)
Dir: Jafar Panahi

Os filmes iranianos são muito marcados pela sua simplicidade e a inocência de seus personagens. Jafar Panahi, já em seu segundo longa, insere esses mesmos elementos, mas em determinado ponto, a história toma um rumo totalmente inesperado que até hoje não sei se intencional ou acidental (claro que não vou contar o que é). Na saída do colégio, uma menininha espera a mãe a vir buscá-la, mas como ela não aparece, a garota decide ir sozinha para casa. Nesse percurso, ela conhece o tumultuado e perigoso mundo dos adultos. Mas quando a história se transforma vemos o outro lado do espelho e realidade se mistura à ficção de forma surpreendente.

8 thoughts on “Curtas

  1. André Ourix:

    Eu não tenho o costume de ver muitos curtas. essa é uma forma de midia muito pouco visada pelos cinefilos, em comparação as produções filmicas de longa duração, o que dira em relação ao publico de massa.
    tenho que ver mais deste tipo, e ainda mais estes otimos vindo de terras “inexploradas” por nos brasileiros.
    Este tipo de post é legal, pois nos mostra interesse por outras coisas legais alem de longas.

    visita o cineoba, vlwwwwwwww

  2. Ita, acho que temos aqui um pequeno problema de comunicação. Os posts, André, não são sobre curtas. O título do post se refere à resenha, essas sim são curtas. Talvez não tenha ficado tão claro, mas é que já tinha feito um post assim só de pequenas resenhas. Desfeito o engano então!

  3. O primeiro e o último parecem mais interessantes (nem precisa dizer que vi nenhum, por ora).
    Só se lê notas positivas sobre essa obra de Jia Zhang-Ke, enquanto que O ESPELHO, apesar de ter uma década, ainda hoje é lembrado e comentado. Pela sinopse, lembrou-me de OSAMA, outro bom filme vindo do Oriente Médio.

  4. Rafael, pelo visto esta sessão tripla de filmes foi bem proveitosa, já que se trata de filmes bem diversificados. De todos, tenho algum conhecimento a respeito deste mais recente filme de Von Trier, “O Grande Chefe”. Os comentários tem sido mais negativos que positivos, mas tenho vontade de ver a produção. E também estou ansioso com o fechamento da trilogia “América – País das Possibilidades”.

  5. Não gostei muito de “Em Busca da Vida” [**], esperava bem mais – ainda que tenha alguns momentos mágicos mesmo. Os demais não vi, mas quero conferir “O Grande Chefe”, ainda que a crítica não tenha gostado muito.

  6. Essa foi a primeira resenha em português que li sobre “O grande chefe” (as de jornal não contam). Porém, as gringas davam conta de que Lars Von Trier tinha acertado. Que este programa que ele usa dá um incômodo efeito de perda de controle, que é sobre o que o filme fala. Eu perdi essa produção nos cinemas, porque ficou em cartaz uma semana. Porém, como fã do diretor, estou doido para assisti-lo!

    Von Trier não só ficou devendo “Wasington”, como também estava pré-produzindo um filme de terror chamado “Anticristo”, que deve ser sinistro!

    Vejo muita gente falando em Dogville, mas os primeiros filmes dele são muito impactantes também e valem uma conferida: “Ondas do destino”; “Europa”; “Os idiotas” (do movimento Dogma 95); “Dançando no escuro”.

    É um dos grandes diretores do nosso tempo!

    Abs.

  7. É um absurdo só de pensar, mas sou totalmente leigo quando o assunto é Von Trier…não vi nenhum de seus filmes!
    Acabei de pesquisar pela filmografia do cara, fiquei abismado e encantado com tanta coisa interessante…mas não vi nada ainda!
    É o próximo que irei conhecer! xD
    Quanto ao primeiro filme, parece muito interessante…realmente há certo filmes que o famoso “cansativo” é necessário! (Fiquei curioso pela cena do edifício voando)…
    E o filme iraniano tb soa agradável, mas não conheço….acho que o cinema iraniano é muito uniforme! Geralmente falam da mesma coisa….
    Abraço!

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