Elogio da adrenalina

Mad Max: Estrada
da Fúria

(Mad Max: Fury Road, Austrália/ EUA, 2015)
Dir:
George Miller 
O
primeiro Mad Max é um filme independente, feito com poucos
recursos para um projeto desse tipo e, talvez por isso, cheio de uma inventividade
que o tornou cult em fins da década de 1970. E arrecadou também muito dinheiro,
o que tornou o segundo Mad Max um filme padrão hollywoodiano (apesar de ter
corpo e alma australianos), mas ainda assim prezando pela adrenalina da
aventura que se basta por si só.
E
é justamente nessa mesma chave (mas em nível mais insano e grandiloquente) que
também nos chega Mad Max: Estrada Furiosa,
um revival da franquia de sucesso,
comandado pelo mesmo George Miller, idealizador e diretor do projeto inicial. É
uma chegada bem-vinda porque o filme põe em xeque algo que se incorporou ao
cinema blockbuster contemporâneo: a
necessidade de se fazer filmes de ação/aventura com algo de adulto, subtextos
psicológicos ou questões morais/sociais que engrandecem a história com camadas relevantes,
para além da diversão.
Mad
Max
vem pra mostrar que é possível hoje fazer um filme de ação sem discutir grandes
questões, sejam elas sociais, familiares ou pessoais de seus protagonistas. Talvez obras como Batman Beggins e X-Men 2 sejam os projetos que
inauguraram e melhor solidificaram esse tipo de proposta nos filmes de ação e
de super-heróis, criando uma espécie de “nível de qualidade” a ser seguido.

George
Miller retorna ao coração de sua proposta inicial e nos entrega um filme que
não tem vergonha de ser um elogio da adrenalina, feito à base de poeira e
velocidade. Encontramos Max (Tom Hardy) depois de perder esposa e filha para um
bando de arruaceiros, num mundo pós-apocalíptico. Agora é prisioneiro do temido
e bizarro Immortan Joe (Hugh Keays-Byrne), chefe de uma cidadela sitiada com
acesso a água abundante e preciosa gasolina.
O
filme apresenta esse novo universo, duro e degradante, e suas novas formações
sociais. Interessante como, aos poucos, o espectador vai entendendo as regras
que regem aqueles grupos, os papeis e funções de cada um, como sobrevivem e o
que está em jogo no arriscado plano de fuga encabeçado por Furiosa (Charlize
Theron), uma das esposas do vilão, tudo isso sem nunca soar didático.
Trata-se
de uma bela orquestração narrativa que confere maior destaque ao percurso de fuga
e perseguição e do qual Max é envolvido por acaso. De qualquer forma, as
motivações dos personagens são extremamente simples: um quer sobreviver, outra(as)
quer(em) fugir, outro(os) quer(em) servir. Mas essas motivações nunca são simplistas.
É incrível como Theron, por exemplo, confere destemor a sua personagem e como o
filme nos leva a entender e torcer por sua luta e por aquilo que representa,
sem necessidade de investir num grande subtexto.
E
nesse ponto, se há algo de questionável no longa é a insistência da trama em retomar
o passado trágico de Max que não consegue se esquivar da perda da família; sua
mente traumatizada faz questão de trazer isso à tona. É um confronto particular
que não acrescenta muita coisa à história. Corre-se o “risco” do filme querer
insistir numa proposta psicológica, porém, felizmente, a aventura desenfreada não
permite. 

Sem grandes temas a desenvolver e enfrentar, Mad Max: Estrada Furiosa é ainda um belo
filme de excessos. Não só pelas incríveis sequências de perseguição e
confronto, mas mesmo no tom operístico que a causa daqueles indivíduos ganham
em intensidade e adrenalina, brutalidade e bizarrice (um dos veículos do vilão
possui um guitarrista e uma de banda de percussão que tocam em meio à
perseguição!). É o retrato de um mundo pavoroso e sujo em que tudo é uma questão
de viver ou morrer.

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