Desconstruindo o tempo

X-Men: Dias de um Futuro
Esquecido
(X-Men:
Days of Future Past, EUA/Reino Unido, 2014)

Dir:
Bryan Singer
É fato
que todas as histórias que envolvem viagem no tempo são contraditórias e deixam
questões no ar, algumas delas difíceis de resolver. Não deixa de ser corajoso,
portanto, que a produção desse novo filme dos X-Men arvore-se por esses
caminhos depois de ter construído solidamente o começo de uma nova série com o
ótimo X-Men: Primeira Classe, que marca
o encontro e a cisão entre os jovens Charles Xavier (James McAvoy) e Magneto (Michael
Fassbender).
Aqui a possibilidade de voltar no tempo, para mudar
o futuro, deixa brechas para que a história dos X-men seja reescrita, algo que
o filme questiona logo de cara a partir de um fala em off de Magneto: “O futuro já está determinado?”. Porque, sendo
assim, no futuro, os mutantes enfrentam a própria extinção quando versões mais
desenvolvidas das Sentinelas surgem como bestas feras poderosíssimas que os caçam e exterminam um a um.
A
solução, então, é enviar a consciência de Wolverine (Hugh Jackman) ao passado a
fim de encontrar Xavier e Magneto, fazendo com que eles retomem a parceria. O
plano é impedir Mística (Jennifer Lawrence) de assassinar o empresário e
cientista Dr. Bolívar Trask (Peter Dinklage), ato que colocaria em prática o projeto
de construção das Sentinelas para deter a raça mutante.
Mas o
que está em jogo não é somente a alteração do passado para a manutenção da sobrevivência
e da ordem no futuro. Também existe uma preocupação com a essência dos personagens.
Mística, portanto, é figura central nesse sentido, pois o jovem Xavier tentará apelar
para a bondade que ainda há dentro dela. Há algo de maniqueísta aí, assim como o
Magneto do futuro (Ian McKellen) surge arrependido e esteja do lado do “bem”.
Isso enfraquece
um tanto o filme e tira a complexidade que já foi uma marca maior nos outros
trabalhos da série, embora o jovem Magneto cumpra essa tarefa aqui. As dúvidas
que permeiam a viagem no tempo também depõem contra o filme (por que não voltar
num ponto anterior e impedir o Dr. Trask a criar o projeto das Sentinelas? Por
que o tempo no futuro passa lentamente enquanto no passado transcorrem dias? Outro
incidente, que não a morte de Trask, não poderia desencadear a mesma caça aos
mutantes?).  
Demora um pouco para que o espectador releve essas questões (caso ele pare para pensar nelas com cuidado) e se habituar a uma nova
reconfiguração da história dos X-Men, especialmente ao perceber que os
acontecimentos da trilogia inicial serão desvirtuados, e não se deve mais
contar com ela para ligar os fatos. Curioso que justamente o diretor Bryan
Singer, responsável pelos dois exemplares iniciais da primeira trilogia, seja
quem conduza esse filme aqui, e com muita segurança, aliás.
As
sequências de ação são todas muito boas, empolgantes e estabelecem o senso de
urgência que a história merece. Mercúrio, um personagem tão duvidoso pelos fãs,
quem diria, é dono de uma das melhores cenas do filme, que também respinga bom
humor sem exageros. O clímax do filme que equilibra ações decisivas tanto no
futuro quanto no passado também merece destaque.

Ajudado, inclusive, pelo bom uso que Singer faz do
recurso 3D, X-Men: Dias de um Futuro
Esquecido
mantém os ótimos momentos que a história dos mutantes rendeu ao
cinema. Aqui a escala é maior e mais escorregadia e, apesar de alguns deslizes,
a aliança entre a jovem e velha guarda funcionou bem melhor do que o esperado.

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