De onde viemos

Prometheus (Idem, EUA,
2012)
Dir:
Ridley Scott
Prometheus parte de questionamentos
bastante ambiciosos: como surgiu a vida humana, quem nos criou e por quê?
Negando as teorias científicas e religiosas que temos e debatemos atualmente, o
retorno de Ridley Scott à ficção científica cria toda uma mitologia de seres
espaciais (especiais?) que deram origem à existência do Homem na terra. Emula,
assim, o mito grego de Prometheus como sendo, em algumas versões, o precursor
da humanidade, roubou o fogo dos deuses do Olimpo para nos dar como dádiva,
sendo punido por isso.
Está
lançada, portanto, uma nova mitologia que encontra, expande e tenta
complexificar aquela vista em Alien – O
Oitavo Passageiro
, que funciona mais como um filme tenso de sobrevivência
do que preocupado em criar uma fábula em torno das criaturas mortais (coisa que
vai ser tentada com resultados duvidosos nas continuações posteriores). Nessa nova investida, a
partir das investigações da Dra. Elizabeth Shaw (Noomi Rapace), chega-se ao
mesmo planeta que foi palco dos acontecimentos futuros de Alien, tido como destino certo para encontrar aqueles que ela
acredita terem criado a vida na Terra.
Se
a pretensão do filme seria desenvolver ideias sobre o surgimento do ser humano na
Terra, seu primeiro grande entrave reside num roteiro que não consegue dar
conta da dimensão da situação. Não fica claro, por exemplo, por que a Dra. Shaw
acredita que aquelas pinturas rupestres encontradas em sítios de vários
civilizações antigas representam necessariamente um convite e, muito menos, por
que estes seres superiores seriam os criadores, chamados de Engenheiros, dos
seres humanos.
Além
disso, a tripulação da nave Prometheus carrega uma série de personagens
interessantes, cada qual com suas convicções e crenças, mas parecem funcionar
mais como ferramentas de intrigas bobas entre si. Porque não sabemos exatamente
o que move o robô David (Michael Fassbender) e por que, por exemplo, ele vai aprontar
com um dos tripulantes. Ou o que Vickers (Charlize Theron), afinal, está fazendo
naquela jornada a despeito dos conflitos ideológicos com Weyland (Guy Pearce). Enfim,
os personagens não parecem bem desenhados
E
ainda temos Ridley Scott que, de fato, não é mais o mesmo. Tudo bem que essa
constatação já era fato pelos filmes recentes que tem feito e pelos baixos
resultados de qualidade. Mas com Prometheus,
ecoando os bons tempos de Alien, seja
como retorno à ficção científica, seja como prequel mesmo desse filme de 79,
havia a esperança de um repeteco de pelo menos um pouco do trabalho magistral com aquela
mise-en-scène cuidadosa, sem pressa, reflexo de um excelente começo de
carreira.

Dessa
fase destacam filmes como sua estreia com Os
Duelistas
, uma aula de precisão e montagem, passando pelo icônico e
referencial Blade Runner – O Caçador de
Andróides
. Nessa época, o cineasta tinha mais força criativa, mais a
oferecer em termos de imagens cinematográficas marcantes. Prometheus não traz mais esse diretor consciente da direção precisa, decepciona um tanto na espera por uma história mais cnsistente, mesmo que ainda
funcione como um bom filme de ficção científica.

Apesar de todas essas restrições, Prometheus
ainda carrega o interesse pelo gênero com certa propriedade. A
descoberta dos Space Jockeys, a formação dos aliens em contato com a substância
negra, a proximidade (inclusive genética) desses seres com a humanidade e, pelo
menos, uma grande cena, em que determinada personagem passa por um processo
cirúrgico, fazem o filme ainda reter seu interesse. Tecnicamente, a obra é um
primor, nada soa gratuito e edição de som é cereja do bolo.
Mas para além dessas questões, existe toda uma
atmosfera de curiosidade pelo que será descoberto em seguida na montagem do
quebra-cabeça e de como isso pode se encaixar com a formação dos seres humanos
e também como se conecta com o mítico Alien
de 79. Prometheus lança uma série de
perguntas, finge que responde algumas, outras ficam no ar, mas permanece a audácia
de um filme que poderia ser bem melhor.

7 thoughts on “De onde viemos

  1. O começo do seu filme está quase igual ao meu texto sobre "Prometheus", que ainda vai sair lá no site. 🙂

    Eu concordo que o filme poderia ser bem melhor e acho que o problema é do roteiro. Por mais que ele levante pontos e situações interessantes, a sensação que dá é a de que as perguntas levantadas nunca são respondidas e a gente termina o filme do mesmo jeito que começamos. Ou seja, a trama não evolui.

    No mais, Ridley Scott demonstra um grande domínio da técnica cinematográfica, construindo um clima certo pra um filme que precisa de certa dose de tensão e de apreensão. A parte técnica, aliás, acaba sendo o grande destaque de "Prometheus", especialmente a trilha sonora, que considero ser a melhor do ano, até agora.

  2. Cada vez mais reconheço a importância de um bom roteiro, mas ainda valorizo tanto o visual, as imagens fortes e belas que, mesmo que não sendo nota DEZ, para mim Prometheus leva um NOVE com louvor.

  3. Antonio, pra quem gosta do gênero, não dá pra perder mesmo. Mas no fundo, fica aquela pontinha de desapontamento.

    Exato Kamila, o roteiro me parece um certo embuste, somente para o filme ter uma razão de ser. Só não acho que a direção do Scott tenha essa tensão que o filme precisava. Ele perdeu a mão completamente nos últimos anos. Tecnicamente, é mesmo incrível.

    Stella, às vezes a gente precisa se despreender do roteiro mesmo, mas ainda assim acho que as imagens do Scott poderiam ser mais potentes, viu. Quando você assiste a Alien, por exemplo, e percebe o que ele consegue fazer com silêncios e pausas, eu fico impressionado. Esse domínio ele parece não ter mais.

  4. Stella, seria mais fã se ele tivesse mantido esse nível de qualidade anterior. Um tropeço ou outro é aceitável, mas acomodação é mais difícil. De qualquer forma, Prometheus é dos melhores que ele fez ultimamente.

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