Em equipe

À Procura de Eric (Looking for Eric, Reino Unido/Itália/França/ Bélgica/Espanha, 2009)
Dir: Ken Loach

Eric Bishop tem problemas. Homem de meia-idade, barba sempre por fazer, ele não consegue esquecer a ex-mulher e ainda precisa lidar com os dois enteados (cuja mãe nunca conhecemos), verdadeiros aborrescentes. A coisa piora quando o mais velho se envolve com uma gangue de mafiosos. Os colegas de trabalho gordinhos de Eric são seus únicos amigos. Mas para ajudá-lo a enfrentar essas situações, eis que ele passa a receber uma estranha visita: o ex-jogador de futebol Eric Cantona, numa espécie de aparição que só ele vê.

Ken Loach, muito acostumado a retratar o universo dos trabalhadores ingleses e também bastante afeito a temas politizados, surpreende com um filme de bastante frescor e senso de surrealismo, alcançando graça através da ingenuidade de seu discurso. Algo bastante diferente, por exemplo, de sua Palma de Ouro, o ótimo Ventos da Liberdade.

O filme consegue surpreender o espectador que ora recebe na tela fortes e brutas imagens (como a invasão da polícia na casa) e outras de total nonsense (as já citadas aparições do astro do futebol, e também a lição dada nos mafiosos). Assim, a história se equilibra muito bem entre essas duas vertentes e nos deixa intrigado pelo que vem à seguida, o que sempre é muito bom.

Por mais que as soluções encontradas pelo diretor e seu roteirista Paul Laverty possam soar simplistas e pouco eficientes no mundo real, há de se convir que não parece ser intenção do filme se aproximar da realidade (como as próprias aparições de Cantona), mas de funcionar como uma grande alegoria.

A noção de que é preciso trabalhar em equipe para vencer nossos obstáculos pode soar bastante ingênua também (como os demais conselhos livro-de-auto-ajuda de Cantona), e é assim mesmo que o filme trata a questão, apesar de acreditar muito nisso. Desse despropósito, ele consegue soar verdadeiro.

Cantona, como ator, se mostra bastante convincente e é muito interessante sua participação no filme porque ele é bem conhecido por suas reações imprevisíveis e jeito um tanto arredio, mas suas cenas são sempre muito espirituosas. Melhor é David Evets que vive seu Eric como um perdido no mundo, em franca decadência, mas ainda disposto a acertar as coisas e partir para o ataque.

PS: é possível perceber esse tom jocoso vindo do Loach já no curta que ele fez para o projeto coletivo Cada um com Seu Cinema. Curiosamente, o tema futebol surge como conciliador no filme. Muito bom.

5 thoughts on “Em equipe

  1. Obrigado Kamila, e fico feliz que se interesse pelo Loach, ele parece ser um ótimo cineasta. Preciso ver mais coisas dele.

    Realmente Wallace, é de uma simplicidade bastante inocente e esse é o tom do filme.

  2. Gosto muito do Ken Loach! Perdi a cabine do filme e ando sem tempo de conferi-lo no cinema – a única sessão aqui perto é no meio da tarde… Quero muito ver – até porque é um tema que sempre me desperta a curiosidade.

    Abs!

  3. Pois é Dudu, estou começando a conhecer mais coisas do Loach. E ao contrário de muita gente, acho Ventos da Liberdade bem bom, sóbrio e direto. Não deixe de ver assim que tiver a oportnidade.

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