Mostra SP – parte 4

O Grande Mestre (Yi Dai Zong
Shi, Hong Kong, 2013)

Dir:
Wong Kar Wai
Talvez
essa seja uma das primeiras grandes decepções com um filme de Kar Wai. Engraçado
que seu filme menos empolgante até então era Cinzas do Tempo, justamente aquele em que o diretor se arvorava no
gênero de artes marciais, muito embora seu filme anterior tinha muito mais da
habitua história de amor, marca que tornava Kar Wai um dos cineastas mais
românticos (e melhores) do mundo.
Dessa
vez, o diretor faz o percurso inverso: abraça o Kung Fu como interesse temático,
a partir da história real de Ip Man (Tony Leung), um dos grandes mestres da
arte marcial, deixando as pitadas de romance para segundo plano. Interessa aqui
os conflitos entre os lutadores de Kung Fu, especialmente quando Gong Er (Zhang
Ziyi) chega para vingar a derrota que Man infligiu a seu pai, o grande lutador
Gong Yutian (Qingxiang Wang).
Kar
Wai se esforça bastante para que as cenas de luta soem como um balé de corpos em
movimento mortal, algo muito pertinente para um cineasta que sempre usou o
corpo de seus atores a serviço de um tipo de atração (embate?), porém aqui
surge ensaiado demais. Tudo precisa ser muito bonito, perfumado, antes de mais
nada. É aí que o cineasta exagera na estilização das cenas, especialmente ao
abusar da câmera lenta.
Se
o confronto de Ip Man e Gong Er surge como ponto alto do filme, muito mais
coisas se desenrolam no enredo, atravessando um longo período de tempo,
desdobrando conflitos, tudo para que mais lutas possam ser coreografadas. Raramente
também nos filmes do diretor os diálogos dos atores não soavam tão primários e
explicativos. Uma grande decepção vinda de um grande mestre do cinema.
Miss Violence (Idem, Grécia,
2013)
Dir:
Alexandros Avranas 

Mais
um conto moral vindo da Grécia, esse país em crise financeira que parece
espalhar para os outros campos (político, social, familiar, artístico) seu
descontentamento com a realidade atual. A família, como instituição sagrada,
surge nos filmes como em estado de falência, e esse é mais um trabalho que vem
corroborar esse estado de coisas em decadência. 
Se
um dos maiores problemas desse filme (como de tantos outros) é que ele vem para
chocar, existe pelo menos a parcimônia em deixar seus momentos mais “impressionáveis”
para o final. Por isso é importante não saber muito do enredo e se deixar curioso
pela estranha família que passamos a acompanhar.
Logo
de início uma das filhas suicida-se no dia do seu aniversário. O choque da
família aos poucos vai dando lugar a comportamentos e diálogos que revelam algo
de estranho ali, algo fora da normalidade, especialmente na atitude
controladora do avô (Themis Panou),
a figura paterna e chefe daquele ambiente, já que nunca encontramos o pai dos filhos
de Eleni (Eleni Roussinou).
O
mérito do filme está na apropriada condução em que o diretor Avranas dá a
relações frias e misteriosas entre aqueles personagens, ao mesmo tempo em que
instiga o espectador a desvendar os reais segredos escondidos ali. O problema é
quando toda essa carga de enigma torna-se um capricho demorado para revelar um
choque que vem em forma de cena duríssima, mas feita para causar impressão. Há
bons momentos aqui, como a cena inicial que deixou a sala lotada em total
silêncio, mas Miss Violence tem muito
mais de rasteiro do que se possa imaginar.
Meteora (Idem, Grécia/Alemanha,
2012)
Dir:
Spiros Stathoulopoulos 
Se
o cinema grego contemporâneo parece ter uma coesão narrativa e temática que
aproxima uma série de filmes que nos chegam por via de mostras e festivais
(isso dos poucos filmes que aportam por aqui), Meteora surge como uma peça destoante, em tom e estética. É um
filme muito bonito, dotado de certas liberdades poéticas, muito singelo e
simples, embora demore um pouco para dizer a que veio.
É
uma história de amor como tantas outras, a de um casal impossibilitado de
concretizar sua união, especialmente se são um monge e uma freira que vivem em
monastérios no topo de montanhas vizinhas. É nessa paisagem bucólica que o
diretor grego explora o tema do amor que esbarra nos preceitos da religião, sem
necessariamente precisar criticar o amor (e não temor!) a Deus que aqueles
personagens fazem questão de revelar. 

O
longa tem algo de coisa antiga, não só pelo tema clássico do amor proibido, mas
pela ortodoxia daquele ambiente que parece jogar o filme num outro ambiente,
outro universo de suspensão. As incursões em forma de animação também dão outro
ar ao filme, elevando-o ao campo do fantástico, embora algumas passagens sejam
bem descartáveis. É um filme corajoso por confrontar esses dois personagens com
um desejo carnal e emocional, sem que isso soe como uma afronta à religião. Pelo
contrário, a difícil comunhão daqueles dois parece algo mais de divino do que
qualquer outra coisa.

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