Mar de excessos

Êxodo: Deuses e
Reis

(Exodus: Gods and Kings, EUA/Reino Unido/Espanha, 2014)
Dir: Ridley Scott

Êxodo: Deuses e
Reis

é o tipo de filme em que a palavra “ÉPICO” precisa estar subentendida como maiúscula,
estampada nas cenas como chamariz principal. Não é algo novo – Cecil B. DeMille
fazia a mesma coisa antes no sistema hollywoodiano, apropriando-se das histórias
de cunho religioso para torná-las espetaculosas, inclusive já tendo contato a
história bíblica de Moisés em Os Dez
Mandamentos
.
O
personagem retoma agora como herói destemido, num processo que o leva à
liderança do povo hebreu que sofre como escravo no antigo Egito. No filme,
Moisés (Christian Bale) aparece primeiramente como general e braço de confiança
do faraó Seti (John Turturro), também confidente do príncipe herdeiro Ramsés
(Joel Edgerton). Quando descobre sua origem hebraica, Moisés passa, aos poucos,
a tomar partido de seu povo diante dos desmandos do império egípcio.
Talvez
estejam aí os melhores momentos do filme, ensaiando os embates que perdurarão
na obra. A relação de Moisés com Ramsés ganha contornos mais dramáticos, assim
como o protagonista também questiona cada vez mais a ordem divina. Porém, ao
se dedicar tanto aos conflitos internos do protagonista diante do papel heroico
que lhe parece destinado, o roteiro, escrito a oito mãos, torna-se enfadonho
por se demorar nesses embates.
Mereciam
um caminho mais conciso, mas prefere-se estender cada vez mais uma resolução
não tão complexa assim, e já bastante conhecida por aí. É o mesmo tipo de gordura
que existe no recente Noé, de
Aronofsky, mas ali parece haver uma concisão maior que funciona no interior do filme,
ajudado a criar certa tensão, mesmo que algumas soluções sejam dispensáveis.
Dificulta
também aqui o fato de existir um esforço evidente para que a história não
pareça tão bíblica assim, entregue a uma ordem de viés religioso na sua construção.
Scott prefere dar um ar mais pomposo e realista para algo que possui um fundo fortemente
alegórico. Manipula-se o texto religioso/histórico para que soa sempre muito
espetacular e grandioso, o que não poderia ser muito diferente nesse tipo de
produto.

Vale
a pena, no entanto, destacar o bom uso do 3D, que não chama atenção para si,
valorizando a profundidade de campo, ajudado pelo portentoso dos monumentos e
cenários do antigo Egito. Funciona mesmo como uma imersão, na maior parte do
tempo, a uma tridimensionalidade que, uma pena, não aparece também na história
que conta. Êxodo: Deuses e Reis acaba
sendo mais cansativo do que prazeroso no seu conceito épico.

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